sexta-feira, 28 de setembro de 2012

[Resenha #21] A Corrida de Escorpião, de Maggie Stiefvater


 Há livros que nos transportam para o mundo criado em suas páginas, nos mostram suas personagens e cenários - nos dão um descanso merecido daquilo que nos cerca. Entretanto, há livros que vão além: passam sentimentos únicos e sensações ao seu leitor, fazendo-o se conecetar ao que está à volta não de si, mas das incríveis personagens ali descritas. Esse é "A Corrida de Escorpião", de Maggie Stiefvater, obra de caráter intimista e tão cativante que deixará qualquer leitor encantado pela aura misteriosa que há na ilha de "Thisby" todo novembro.

A cada novembro, os cavalos d'água emergem do oceano e galopam na areia sob os penhascos de Thisby. E, a cada novembro, os homens capturam esses cavalos para uma corrida eletrizante e mortal. Alguns cavaleiros sobrevivem. Outros, não. Aos 19 anos, Sean Kendrick já foi quatro vezes campeão. Ele é um jovem de poucas palavras e, se tem medos, guarda-os bem escondidos, onde ninguém possa vê-los. Puck Connolly é uma novata nas Corridas de Escorpião. Ela nunca quis participar da competição, mas o destino não lhe deu muita escolha. Sean e Puck vão competir neste ano, e ambos têm mais a ganhar - ou a perder - do que jamais pensaram. Mas apenas um deles pode vencer.

Eu comprei a Corrida de Escorpião por um impulso inexplicável. Apenas uma opinião apaixonada de um vlog foi suficiente para fazê-lo entrar em minha lista de prioridades. Mas, o que o livro apresenta de novo a todos nós? Simples...identidade. Maggie Stiefvater mostrou ao mundo literário jovem que a futilidade não é sinônimo do gênero e que podemos aprender muito de uma relação em que apenas uma das partes é humana.

Ao explorar o ar bucólico de Thisby, a autora constrói um mundo único - inebriantemente enigmático  - e coloca no papel uma fantasia tão subjetiva, que faz com que exista uma Thisby diferente para cada leitor. O brilhantismo se encontra em seu fluxo de pensamento, tão singelo e único, que é possível destcá-lo como a alma da obra.

"Está tão escuro que posso ouvir o mar melhor que vê-lo. Shhhhh,shhhhh, ele diz, como se eu fosse uma criança impaciente, e ele, minha mãe. De qualquer forma, se o mar fosse minha mãe, eu preferiria ser órfã." - Kate Connolly, pág. 120

(Maggie Stiefvater)
A narrativa é extremamente cativante, a autora encontra uma cadência perfeita na alternância de narradores. Temos a história contada na perspectiva da corajosa órfã Kate Connolly, Puck para os íntimos; e do domador genial de Cavalos-d'agua, Sean Kendrick. Cada fim de capítulo nos faz desejar passar logo pelo próximo e encontrar novamente o narrador daquele momento - então, nos surpreendemos justamente com este outro capítulo que queriamos pular...e nos pegamos em um ciclo vicioso. Pensar na narrativa de Puck despreendida da de Sean, e vice-versa, é impensável - mesmo tão distantes e com pensamento tão diferentes, conseguem ser complementos perfeitos um do outro.

As corridas significam fama e fortuna. Porém, com muito pé no chão, Stiefvater não doura e nem endeusa essa fórmula mágica de ato heróico; na realidade, ela banha tudo a sangue e gotas salgadas do mar da ilha fantástica.

Muitas vezes fiquei perdido em relação ao cenário que se abrangia a minha frente e ao tempo que se dava a história.Eu ficava imaginando como verdadeiramente seria Thisby, quando pensava ter chegado a uma conclusão - "Certo, Inglaterra com um certo toque medieval" - Stiefvater parecia querer me confundir - "Como assim? Carros? Computadores?". A realidade: É incrível o desafio criativo que a autora nos propõem, construindo um mundo novo, com elementos antigos e contemporâneos - um verdadeiro exercício a imaginação de qualquer um.

A autora brinca, de uma forma até séria eu diria, com o fato dos YA voltarem-se ao egocentrismo de um casal. A história de Puck e Sean é tratada com maior maturidade, quase a distância - de uma maneira verdadeiramente chamativa aos olhos dos que procuram um renovo. Não procure por um romance tórrido nas páginas de "A Corrida", você encontrará uma paixão muito maior e inigualável em comum aqui - e ela possui quatro patas.

Devo dizer que é um tanto trabalhoso entender a mitologia que a autora nos propõe logo no início da leitura, é preciso compreender que um mundo fantástico está diluído em nossa dura realidade. No mundo de Kate e Sean, nossos conhecidos cavalos possuem primos distantes vindos do mar, e a cada Novembro esses animais - conhecidos como Capall uisce (CAPple UIShka) - saem de seu habitat para as areias de Thisby. A autora inspirou-se em uma lenda de varias origens europeias para construir a obra, tomando certas licenças criativas que foram essenciais para a fórmula dar certo.

Com diálogos inteligentes e impecáveis, a obra nos apresenta personagens humanos (e equinos), com suas peculiaridades e caráteres bem definidos. A personalidade de cada um é sentida; suas vozes, ouvidas em tons diferentes.O leitor sente a impotência angustiante de Kate Connolly diante de uma ilha machista e a dor introspectiva de Sean diante de sua vida.

A forma como o romance foi construído já nos remete a originalidade pro detrás do grande trabalho de Maggie Stiefvater. Foi incrível ver a relação de Sean com Corr, e de Puck com Dove; caveleiro e cavalo se transformam em um único ser neste romance, aprendemos que confiança e amizade vão além da troca de palavras.

São poucas as passagens que Stiefvater nos permite uma aceleração em nossa pulsação - normalmente enfrentamos o conflito interno dos protagonistas e suas impressões do que há ao redor. Talvez isto será aquilo que repelirá leitores mais ávidos por aventuras. Entretanto, quando Maggie Stiefvater quer nos entregar um pouco de emoção e ação, ela faz isso de uma forma espetacular.


Assim que tive um maior contato com Puck e Sean pude imaginar quem seriam as escolhas certas para encarnarem seus papéis: Molly Quinn (Castle) e Ethan Peck (O Aprendiz de feiticeiro), respectivamente, seriam minhas escolhas. Além disso, como não sentir-se completamente envolto pela aura das Corridas de Escorpião, do festival de novembro, da areia e do mar ao som de "Paradise" do Coldplay? Você encontra a dica, como de costume, no fim da resenha.


A editora Verus fez um ótimo trabalho com a edição. Apesar de não ser um fã de capas metálicas, o efeito foi até que bem vindo junto do tom marrom. A diagramação foi muito bem cuidada, temos letras um pouco menores do que o habitual e páginas amareladas. A gramática está bem revisada e erros são raros.

Posso dizer que "A Corrida de Escorpião" foi a maior e melhor surpresa do ano até então. Aprendi muito com o povo da chuvosa Thisby, passei raiva junto da opressão (de fontes distintas) sentidas por Sean e Kate. Além disso, o romance conseguiu mudar minha visão sobre afabilidade de um cavalo. Para você que está disposto a ter uma leitura de ares nostálgicos e simplesmente encantadora, a histórias heroicamente humana de Sean e Puck é a escolha certa. Talvez você também encontre sua paixão no trotar de um Capall Uisce.



Título: A Corrida de Escorpião      AutorMaggie Stiefvater  
EditoraVerus
Notas: |Enredo: 10/10 | Edição: 08/10Entusiasmo:09/10| 


10 comentários:

  1. Adorei a resenha!
    Ja tinha ouvido falar desse livro, mas não dei nada por ele. Parece ser O livro. Vou por como desejado no meu skoob pra nao esquecer.
    Tb nao curto muito capas metalizadas.. parece que arranham só de olhar rsrsrs

    Bjokas
    Flavia - Livros e Chocolate

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  2. Nunca tinha ouvido fala sobre esse livro e fiquei apaixonada!! Já li o primeiro livro da série "Os Lobos de Mercy Fall" da mesma autora e simplesmente amei a escrita dela.

    http://autoracarolinaribeiro.blogspot.com.br

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  3. Já tinha ouvido falar do livro, e com sua resenha só aumentou minha vontade de ler o livro!!
    Muito bem escrita. :D
    Beijos.

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  4. Nunca tinha ouvido falar do livro.
    A capa do livro é bem bonitaaaa,eu achei pelo menos.
    Gostei da sinopse ^^
    beijos

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  5. Oi! Amei o teu blog. Tbm nunca tinha ouvido falar do livro mas gostei muito da resenha, parabéns.
    Estou seguindo aqui e curti no fb!
    Se puder retribuir com o meu, ficarei feliz *-*

    http://foolishhappy.blogspot.com.br/
    Xoxo

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  6. Como vai Lucas? Espero que bem.
    Ótima resenha! Escrita por uma pessoa bem crítica, percebe-se.
    Sendo assim, já seguindo o blog.
    Parabéns!
    Bjss

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  7. Nossa, legal a resenha. O livro parece ser bem interessante o livro. Já adicionei no skoob para não esquecer de comprar.
    Abraços, Lucas.

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  8. Lucas, tuas resenhas são ótimas e bem completas! Gostei do livro se diferenciar no YA, faz falta mesmo nesse universo. Espero poder lê-lo em breve! Ah, corrige o "destcá-lo" no fim do terceiro parágrafo! ;) Abraços!

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