[Resenha #11]Coma, de Robin Cook

"Segredos não podem ser escondidos na ciência. A medicina tem toda uma maneira de expor mentiras. Dentro das paredes de um hospital, a verdade é sempre revelada. A maneira que mantemos nossos segredos do lado de fora do hospital... bem, isso é um pouco diferente. Uma coisa é certa: seja lá o que tentemos esconder, nós nunca estamos prontos para o momento que a verdade é desnudada. Esse é o problema com os segredos - assim como as tragédias, eles sempre vêm aos montes. Eles vão se empilhando até tomar conta de tudo, até você não ter espaço para mais nada, até você estar tão cheio de segredos que parece que você vai explodir." - Meredith Grey (Grey's Anatomy 1x09)


É com esta citação de Meredith Grey que inicio a resenha desta semana. Manter segredos é um jogo perigoso, uma hora eles vem a tona e nem sempre são os seus mantenedores que acabam sofrendo a maior queda. Robin Cook nos mostra em "Coma" a podridão que há por detrás dos jalecos brancos e máscaras cirúrgicas; é a batalha de uma jovem pelo que julga certo em um mundo no qual ela não se vê pertencente.



Todos os dias, em todos os países do mundo, os hospitais efetuam pequenas intervenções cirúrgicas de rotina. Os pacientes se recuperam rapidamente e podem voltar à sua vida habitual.

Nancy Greenly, Sean Berman e uma dúzia de outros doentes deram entrada no Memorial Hospital para uma pequena cirurgia. Mas estas intervenções de rotina acabaram transformando-os em vítimas da mesma tragédia horrível e inexplicável na mesa de operações… nunca voltaram a acordar. Um erro não identificado, ocorrido durante a anestesia, provocou a morte irreversível do cérebro, deixando-os num coma profundo.

Mas algo de estranho se passa… algo de muito errado. E Susan Wheeler, uma bela, dinâmica e jovem estudante de Medicina, arrisca a própria vida para descobrir a explicação aterradora; uma maquinação tão assombrosa, tão elaborada e, no entanto, tão possível que nos deixa suspensos no próprio medo…

Já sabia da existência do lendário Robin Cook há uns bons anos e só tive a oportunidade de ler o seu mais conceituado romance este ano. Foi uma leitura fantástica, completamente empolgante e visceral...com um porém: o livro é feito pra quem gosta do assunto. Se você não sente atração pela "medicina" é melhor abandonar a ideia de ler "Coma". São tantos jargões médicos e nomes específicos que o leitor ou amará ou odiará a escrita do autor. Tudo dependerá de seu gosto.



Cook torna-se um exigente professor em suas páginas, através de suas personagens ele nos apresenta o sedutor mundo da medicina de uma forma direta, sem muita preocupação se estamos ou não acompanhando o raciocínio. Ele age como os próprio residentes para com seus internos: "se você quer melhorar a sua compreensão, dê um jeito de me entender". Diversas vezes tive de voltar algumas passagens para compreender os procedimentos e imaginá-los. Parece um esforço extenuante e pouco atrativo certo? Errado, foi o tempero essencial para a leitura; foi um dos livros investigativos que mais me diverti tentando descobrir pistas e possíveis culpados.

(ROBIN COOK)

O autor levanta um questionamento que hoje tornou-se um tanto obsoleto na "medicina" e, creio eu, até mesmo no mundo - O machismo da profissão e o conceito da inferioridade feminina.A protagonista Susan Wheeler foi construída como uma jovem bela e genial no intuito de desafiar os ideias da época.Seria a medicina um lugar para as extremamente passionais mulheres? Cook alfineta a sociedade da década de 70 com a perspicácia e a coragem inabalável de sua personagem. O lado frágil de Susan encontra-se justamente em sua insegurança e a busca pelo equilíbrio - teria ela que abdicar de ser mulher para ser médica ou teria que abdicar da medicina para reencontrar sua sexualidade? A quantidade extremamente superior de homens arrogantes e grosseiros com que tem contato a mantém sufocada por seus questionamentos.


Colocar Mark Bellows, um médico bem sucedido, como coadjuvante - o equivalente "Watson" da nossa protagonista "Sherlock" - deve ter sido uma surpresa para a sociedade da época, é só estar atento às constantes referências que o autor faz através de suas personagens em relação às mulheres na medicina. É bom ressaltar que mesmo Cook era, ao que tudo indica em seus agradecimentos, avesso a ideia da formação de "médicas"; ele não explicou muito bem o que o fez mudar de opinião ao ponto de então "defendê-las" em seu romance.


O desenvolvimento da trama é muito intrigante, o autor consegue fazer um bom jogo de caça às pistas para seu leitor e surpreende em diversos pontos. Acredito que muitos não se surpreenderão com as revelações finais feitas pela Dra. Wheeler; porém, o suspense presente em cada página é tão sufocante que o leitor acaba prezando mais este aspecto do que o próprio desfecho. Bem, infelizmente o final é um dos pontos negativos do livro; não sou um fã de finais abertos no estilo cinematográfico, mas há quem goste. Portanto, mais uma vez acredito que é outro ponto do livro que deve ser avaliado individualmente; entretanto, isso não tira o mérito de ter sido o final mais excruciante que já li, até a última página é impossível afirmar se teremos um final "feliz" ou "triste".


Eu li a edição "Best bolso" do livro, portanto não tenho muitos elogios em relação a diagramação e afins. A edição não possui divisão de capítulos e  possui pouquíssimos erros gramaticas ou de grafia. No mais, é uma edição satisfatória e que não causa nenhum transtorno maior. Ah! Um diferencial muito interessante é a presença da representação de um gráfico de pressão sanguínea feita pela protagonista em determinado ponto da trama para tentar avançar em suas investigações. Acreditem, foi uma das coisas mais legais que já vi em um livro.


Devo lembrar a vocês que a A&E lançará uma minissérie em setembro que adaptará o livro em 2 episódios de 2 horas. Um pequeno trecho foi liberado para saciar a ansiedade dos fãs, mais informações podem ser encontradas no Leitura Dinâmica #03. Acredito que os seriadores maníacos que ainda estão desconfiados em relação ao livro ficarão mais animados ao saberem que Robin Cook é um dos maiores colaboradores para o mundo dos seriados. Ele é o criador do sucesso estrondoso ER (Plantão Médico), um clássico da TV que conseguiu chegar a incríveis 15 temporadas e angariou diversos prêmios ao longo de sua existência. Para aqueles que não sabiam disso: Acredito que eu tenha feito uma cara de surpresa bem parecida com a sua neste momento quando descobri esse fato na primeira página de "Coma".


No mais, "Coma" é um livro altamente recomendável a qualquer amante da medicina e  uma boa leitura aos curiosos.Notei que Cook é um autor único, além do original. A audácia de Susan é a representação fictícia da escrita desse grande autor. "Coma" vai ser um leitura que o fará duvidar sobre quais são as verdadeiras intenções por detrás da eficiência médica - seria correto julgar quando uma vida é ou não descartável?

Título: Coma      Autor: Robin Cook    Editora: Record 

Notas: |Enredo: 09/10 | Edição: 05/10| Entusiasmo:09/10|