quarta-feira, 4 de julho de 2012

[Resenha #10] A Estrada da Noite, de Joe Hill



Muitos podem pensar que revisitar constantemente arrependimentos da vida pode torná-la amarga, difícil de ser administrada - uma total perda de tempo. O que aconteceria se lhe dissessem que, na verdade, uma vida sem arrependimentos não merece ser vivida? Joe Hill, autor de "A estrada da noite", nos mostra como nossos elos com o passado são os que mantêm a engrenagem do futuro ainda em movimento.


Uma lenda do rock pesado, o cinqüentão Judas Coyne coleciona objetos macabros: um livro de receitas para canibais, uma confissão de uma bruxa de 300 anos atrás, um laço usado num enforcamento, uma fita com cenas reais de assassinato. Por isso, quando fica sabendo de um estranho leilão na internet, ele não pensa duas vezes antes de fazer uma oferta. "Vou ´vender´ o fantasma do meu padrasto pelo lance mais alto...".Por 1.000 dólares, o roqueiro se torna o feliz proprietário do paletó de um morto, supostamente assombrado pelo espírito do antigo dono. Sempre às voltas com seus próprios fantasmas - o pai violento, as mulheres que usou e descartou, os colegas de banda que traiu -, Jude não tem medo de encarar mais um.Mas tudo muda quando o paletó finalmente é entregue na sua casa, numa caixa preta em forma de coração. Desta vez, não se trata de uma curiosidade inofensiva nem de um fantasma imaginário. Sua presença é real e ameaçadora. O espírito parece estar em todos os lugares, à espreita, balançando na mão cadavérica uma lâmina reluzente - verdadeira sentença de morte. O roqueiro logo descobre que o fantasma não entrou na sua vida por acaso e só sairá dela depois de se vingar. O morto é Craddock McDermott, o padrasto de uma fã que cometeu suicídio depois de ser abandonada por Jude.Numa corrida desesperada para salvar sua vida, Jude faz as malas e cai na estrada com sua jovem namorada gótica. Durante a perseguição implacável do fantasma, o astro do rock é obrigado a enfrentar seu passado em busca de uma saída para o futuro. As verdadeiras motivações de vivos e mortos vão se revelando pouco a pouco em A estrada da noite - e nada é exatamente o que parece.


Comprei o livro por puro impulso, naqueles momentos de "tenho que comprar mais um pra conseguir 'tal' desconto" que todos nós, bibliófilos, já vivemos algum dia pelo sites de compra afora.A maioria também pode concordar que o sentimento de ter acertado em cheio na escolha é de uma satisfação ímpar. E Sim, eu posso dizer que a "Estrada da noite" encaixa-se perfeitamente nesta concepção.

Acompanhar a vida de Judas Coyne foi divertido, era como acompanhar a transcrição literária dos diversos "realities" de rockeiros aposentados que inundam a TV paga. O diferencial é: Joe Hill soube dar qualidade ao enredo. Como toda estrela musical que se preze, Jude tem suas diversas excentricidades. A maior delas é a sua paixão por quinquilharias macabras. Mal sabia ele que este hobby seria sua verdadeira perdição.

(JOE HILL)
O início da história é um dos pontos chave para qualquer livro, é ali que é mais fácil o autor perder ou não o seu leitor. Joe Hill foi muito inteligente na apresentação de sua trama; era como se já conhecêssemos Judas Coyne e estivéssemos acompanhando só mais um dia na vida da personagem;assim, o autor permitiu uma rápida identificação do leitor para com sua escrita. Como todo bom terror, ao decorrer das páginas, a crescente paranoia vivida pelo protagonista confere cada vez mais carga dramática à trama. Jude busca por seu auto-controle e sua sanidade a todo momento; geralmente falha.

Quem é fã do gênero sabe que podemos dividir os autores em dois grupos: há aqueles que escrevem sobre o terror é há aqueles que nos aterrorizam. Joe Hill ainda é ainda uma incógnita pra mim. Ao mesmo tempo que mostrou perfeito domínio na manipulação do psicológico do leitor, também foi muito infantil em, ainda que pouco, certas passagens. Porém, o autor possui o dom de enredar seu leitor em cenas pavorosas e/ou de pura loucura humana.

Achei a história bem original, são poucos autores de ficção contemporâneos que tem coragem de exaltar um anti-herói em um gênero que respira pela compaixão para com os protagonistas assombrados. Quem conferisse uma primeira olhada a Judas Coyne diria que ele é um ser humano repugnante; mas, depois de acompanhar a sofrida história dele nas páginas do livro, sai com um "quê" de admiração pelo protagonista. Sempre achei estas identificações inconvenientes muito curiosas.

O livro nos proporciona constantemente uma viagem ao passado inconsequente de Jude, as causas dele ser um homem tão desprendido dos laços afetivos. A miséria a que é sujeito a partir do momento que passa a ser assombrado torna-se uma corrida contra a morte e, ao mesmo tempo, uma viagem de auto-conhecimento.

Uma dos detalhes que mais chamou minha atenção foi a forma como Judas se refere às mulheres que já passaram por sua vida. Decorar cada nome seria um esforço grande demais na concepção de Jude; logo, é mais interessante apelidá-las com o nome de seus estados de origem - impessoal e despretensioso - como um "bom" e velho roqueiro deve ser. Temos apenas contato direto com Flórida e Geórgia. Esta é uma das pequenas vantagens de ser norte americano; fico imaginando como seria a vida amorosa de Jude aqui no Brasil - "Tocantins" e "Acre" não seriam apelidos lá muito favoráveis às mulheres...

Acredito que muitos irão conferir um pouco mais de atenção ao autor depois de saber que ele não é o único escritor da família. Na realidade, seu pai é um dos escritores mais conceituados da literatura norte-americana e é tido como um grande mestre das obras literárias do gênero horror. Joe Hill carrega consigo o legado de Stephen King, seu pai e seu maior incentivador. Devo dizer que pelo que pude constatar neste primeiro livro que li de Hill, a explicação mais plausível é: escrever é fator genético.

A edição ganha em certos pontos e perde em outros. A folha é de qualidade e a tipografia pouco incomoda o leitor.Além disso, a diagramação é cuidadosa, temos detalhes gráficos pertinentes à trama a cada começo de capítulo. Infelizmente, a capa é bem simples, sem orelhas ou detalhes adicionais. Eu tenho a edição antiga que ainda estava saindo pela "Sextante" e não a que está sendo publicada pela "Arqueiro". Não creio que muita coisa tenha mudado (me informem caso tenha algum detalhe que não citei na nova edição). O livro é bem acessível, sempre figura nas listas de ótimos descontos nos sites de compra;é muito raro encontrar uma leitura contemporânea interessante com um preço tão chamativo.

O terror em "A estrada da noite" é bem equilibrado. É mais respeitado do que vulgarizado - Muitos pontos positivos para Hill. Aliás, não espere um livro que tirará seu sono, acredito que a reflexão provocada pela evolução da vida do protagonista é mais importante do que deixar o leitor insone. Afinal, Judas Coyne aprende a cada segundo,enquanto é assombrado pela figura do velho Craddock McDermott, que saber reconhecer seus erros poderá ser aquilo que lhe garantirá um futuro.


Título: A estrada da noite      AutorJoe Hill    EditoraArqueiro 
Notas: |Enredo: 07/10 | Edição: 07/10Entusiasmo:07/10| 


15 comentários:

  1. Gostei da sua resenha Lucas
    Ameii mesmo, pretendo ler com toda a certeza!

    beijos

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  2. Rapaizz eu acabei de comprar esse livro e realmente to muito curioso. é Uma história diferente e bem criativa, valew pela resenha quero ler ele mais ainda :

    abraço

    http://tematoa.blogspot.com.br/

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  3. Oi Lucas!
    Esse é um livro que eu quero muito ler, mesmo. Eu comecei a lê-lo em e-book por causa de um Clube do Livro que eu participava. Acabou que eu não consegui terminá-lo por falta de tempo.
    Uma pena! Espero conseguir lê-lo em breve!

    Um beijo,
    Luara - Estante Vertical

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  4. Rapaiz já levei muitas daquela hein. kkk Entao te assustei??
    kkk tem gente boba, nao custa 10 seg. ler uma mensagem e se nao quiser apagar, mas ja levei tanto xingao. :D Vlew por participar, abraço

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  5. O primeiro e único -até o momento- livro que já li de Joe Hill, foi o 'Fantasmas do Século XX', e foi... perturbador... pra dizer o mínimo. Aliás, não faz muito tempo que reli alguns dos contos, e continuam a me deixar o mesmo sentimento de estranheza, surrealismo, pavor... mas são totalmente adoráveis (pra quem gosta de livros de terror, claro)! :D

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  6. Olá! Parabéns pela resenha, ótima!
    Quero muito ler este livro, parece ser aterrorizante mesmo! :)

    http://toda-leitura.zip.net

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  7. Oie, bom dia!

    Posso dizer (por ter este livro) q ele é muito legal e sua resenha está ótima! Continue assim, hein?! ;)
    Realmente é uma boa dica de leitura!

    Bjinhos!

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  8. Eu comprei ano passado, mas sabe foi o que você falou no começo me desinteressei, mas agora vou pegar ele de novo pra ler!
    Abraços!

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  9. Oi (:
    Parabéns pelo blog, já estou seguindo.
    Adorei a sua resenha, e estou louca pra ler o livro.

    Beijos,
    Marinah | Blog Marinah Gattuso

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  10. É realmente um excelente livro Lucas! Aliás, depois de "A Estrada da Noite", eu virei um fã incondicional do Joe Hill, e inclusive tenho e já li seus outros dois livros, que para mim também são incríveis: "O Pacto" e "Fantasmas do Século XX", sendo este último um livro de contos! Vale a pena conferir! ;)

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  11. Eu não sei se foi porque eu li esse livro em uma época boa da minha vida, embalada à Alice Cooper e pizza fria, mas³ A estrada da noite me traz ótimas recordações. Por sinal, experimente reler o livro ouvindo qualquer hard rock ou afins junto, tua vida muda, juro. <3
    Não é um terror pesado e que te dá aquela agonia como, por exemplo, um O Iluminado da vida mas é gostoso de ler e divertido. O tempo passa voando enquanto o leitor acompanha o Jude, e de repente o livro já acabou. Quando eu terminei de ler eu fiquei pensando que eu queria saber mais, foi um troço muito bacana (e que acontece muito pouco).

    Tenho que ler O Pacto ainda, pra me decidir se o Joe Hill vai virar um queridinho ou um one book stand mas³ não dá pra negar que ele escreve bem.

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  12. Tenho vontade de ler esse livro, mas, ao mesmo tempo, não sou muito fã do gênero. Confesso que me interessei mais pelo autor, assim como muitos, ao saber de quem era filho. Por outro lado, sua resenha fez minha curiosidade voltar a despertar. Adorei que você tenha dito que o terror é equilibrado, porque talvez eu tenha coragem de encarar assim :)
    Beijos!
    http://queridaprateleira.blogspot.com.br/

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  13. Rapaz li agora a resenha.
    Ficou muito boa e ate me deu uma animada pra ler o livro.
    Boa sorte com o Blog!

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  14. Tenho muita vontade de ler esse livro maois ainda não tive a oportunidade =/
    http://umceudeletras.blogspot.com/

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  15. Adorei a resenha! Me animei em ler o livro!

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