quinta-feira, 30 de agosto de 2012

[Resenha #17] Quebra de Confiança, de Harlan Coben



Sempre quando pensamos em um romance investigativo, logo um cenário vem a nossas mentes: um assassinato misterioso, um detetive enigmático vestindo um sobretudo e uma ambientação noir*-contemporânea. Harlan Coben quebra nossos pré-julgamentos sem a menor sutileza na primeira página da obra que nos apresenta a irreverência em forma de lei - Myron Bolitar.

"No primeiro caso de Myron Bolitar, Harlan Coben nos faz mergulhar na indústria do sexo e nos negócios escusos por trás da contratação de grandes atletas. Este é um momento importante na carreira de Myron Bolitar. Depois de agenciar alguns atletas pouco conhecidos, ele agora é o empresário de Christian Steele, a maior promessa do futebol americano de todos os tempos. Talentoso, bonito, centrado e carismático, tudo indica que o rapaz também poderá arrematar milhões em contratos de publicidade. Mas, ao mesmo tempo que vive o auge na carreira, Christian enfrenta um drama na vida pessoal. Um ano e meio atrás, sua noiva, Kathy Culver, desapareceu subitamente e, exceto pelos fortes indícios de que tenha sofrido uma agressão sexual, a polícia não conseguiu descobrir nada sobre sua última noite no campus da Universidade Reston. Prestes a ser contratado em uma negociação que pode ser a maior de todos os tempos em sua categoria, Christian recebe o exemplar de uma revista que traz a foto de Kathy em um anúncio de disque sexo. Além disso, o caso acaba de ganhar mais um ingrediente de terror: três dias atrás, Adam Culver, pai dela, foi morto em um assalto bastante suspeito. Agora, com a ajuda de Win, seu melhor amigo, Myron tentará impedir que as notícias sobre a ex-noiva de Christian atrapalhem a carreira do rapaz e irá em busca da verdade – doa a quem doer"


Não vamos nos enganar, Harlan Coben é tão tietado no ramo policial quanto Nicholas Sparks é no de romance;não sei o segundo, mas nada mais justo do que o primeiro ter tamanha atenção. Harlan Coben conferiu à "Quebra de Confiança" um caráter de escárnio; decidiu brincar com os velhos estereótipos policiais através da figura inusitada de seu protagonista.

O primeiro caso de Myron é uma imersão interessante a um plano diferente da investigação criminal, desta vez não temos um detetive convencional munido de seu bloco de anotações; o segredo esta mais na boca suja de Bolitar e seus comentários inconvenientes - afinal, se não se tem nem ao menos educação perante ao perigo, qual é a serventia do medo nessa mesma circunstância?

Esse foi o primeiro livro policial que conseguiu arrancar risadas verdadeiramente espontâneas da minha parte. Não, "Quebra de confiança" esta longe de ser um livro pastelão, o humor é inteligentíssimo - um estimulante para o leitor continuar focado na busca do implacável Myron por respostas.

(Harlan Coben)
O mais interessante a narrativa é a fluidez dela, podemos ler dezenas de páginas sem ao menos sentir. Isso não quer dizer que a leitura seja infantil ou fácil demais, ela simplesmente agarra o leitor e não o deixa mais até ele terminar "só mais aquele capítulo". Coben nos mostra que ele possui um certo dom: consegue unir a narrativa dinâmica com diálogos inteligentemente construídos de uma forma única, cativando o leitor a cada palavra.

O destaque também se encontra nos coadjuvantes pouco convencionais. Myron conta com a ajuda de dois amigos extremamente cativantes - Esperanza, sua fiel secretária latina e ex-lutadora de luta livre; e Win, seu melhor amigo podre de rico e insano. Pelas descrições vocês podem perceber que a última das intenções de Coben foi criar uma obra inteiramente séria e pesada, certo?

É interessante as críticas que o autor faz à própria sociedade americana da época (o livro foi escrito no meio da década de 90), que,diga-se de passagem, não mudou tanto assim nesses quase 20 anos. A forma como o preconceito em relação a etnias foi abordado é, no mínimo, sútil (à própria maneira de Bolitar) mas aina se faz presente - a diferença da sociedade norte-americana é a de ter seu julgamento escancarado, diferentemente do preconceito velado que tanto vemos na terra de Santa Cruz.

Acompanhar o primeiro caso de Myron foi uma experiência, digamos, interessante. O ex-FBI e ex-jogador de basquete tem toda uma maneira única de lidar com os acontecimentos. Talvez esta ruptura com o gênero policial engessado de sempre seja o tempero crucial que torne o livro tão provocante aos amantes dos conhecidos "policiais". Para aqueles que ainda não se aventuraram por estas bandas ainda, "Quebra de confiança" é uma ótima pedida para aguçar seu gosto.

A edição é no estilo tradicional da arqueiro: capa sóbria com título em alto relevo. Traz em seu miolo páginas amarelas ( para o alívio de qualquer leitor) e uma diagramação bem simples, também bem comum ao estilo da editora.No mais, não há nenhum outro atrativo considerável, sabemos que este não é o alvo da Arqueiro.

Harlan Coben foi genial do início ao fim, é isso que tenho a dizer depois de ter lido "Quebra de Confiança". O fato de encontrar personagens tão fortes, reais e, ao mesmo tempo, caricatos foi o que me conquistou no livro.O comportamento de Myron Bolitar faria Sherlock Holmes querer enterrar sua cabeça britânica no buraco mais próximo, mas seu brilhante intelecto e carisma fariam o Rei dos detetives ensaiar uma segunda olhada.     

*nota - Noir: é um estilo de livro/filme primariamente associado ao gênero policial, que retrata seus personagens principais num mundo cínico e antipático.


Título: Quebra de confiança      AutorHarlan Coben  
EditoraArqueiro
Notas: |Enredo: 09/10 | Edição: 07/10Entusiasmo:08/10| 


2 comentários:

  1. Para ser sincero nunca li uma obra deste autor. Curiosidade tenho sim, até quero ler. Mas parece que a maioria dos livros dele fazem parte de uma série, onde o protagonista é o mesmo.
    Outro autor tão falado, é o James Patterson mimi *-*
    Antes de ter lido a sombra da lua, eu não gostava de romances policiais.

    Leitor Compulsivo

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    1. David, o Harlan possui romances sem terem uma continuidade. Um exemplo atual é "Cilada". Tem começo, meio e fim...é uma ótima leitura!

      Abraços!

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