[Resenha #06] O Arqueiro e a Feiticeira (A Caverna de Cristais Vol 1), de Helena Gomes

É mais do que justo dizer que a literatura fantástica brasileira tem crescido de forma estrondosa de um tempos para cá.Há alguns anos o número de novos autores nacionais que se aventuram por este meio têm crescido de forma significativa e ganhado cada vez mais destaque. .Eu confesso que sempre tive certo preconceito com escritores brasileiros modernos deste gênero. Porém, ontem terminei minha primeira experiência com este tipo de literatura juvenil nacional; não sei como poderia ter me agradado mais. Helena Gomes construiu um mundo único; desculpe-me....quis dizer "mundos".

Em um remoto mundo de brumas azuis, a guerra entre dois povos termina com a vitória dos cruéis nergals. Em seu desespero, Loxian, a rainha dos eloras, ordena aos seus três melhores guerreiros o impossível: evitar que os inimigos, liderados por Mudu-za, deizem seu rastro de destruição e morte em civilizações inocentes. A missão, entretanto, fracassa.Milênios depois, em um reino medieval perdido num planeta chamado Terra, uma jovem Sacerdotisa chega em busca do Herdeiro: o único capaz de deter o terror nergal que agora ameaça a raça humana.

Comprei o livro naqueles impulsos que só os bibliófilos de carteirinha possuem nas madrugadas do fim de semana. O livro estava ali, com um preço inacreditável e com uma história chamativa..."por que não?" Tentei lê-lo e em poucas páginas fiquei surpreso em me ver desinteressado. Enrolei a leitura por alguns dias e decidi deixá - la de lado. Na minha opinião, cada leitura tem o seu momento e aquele não era o de A Caverna de Cristais; então, parti pra outro. Quais poderiam ser as causas deste meu desinteresse? Bem, o protagonista é apresentado de maneira fraca e comum; nas primeiras páginas seu destino parece ser monótono demais e o lugar comum acaba cansando o leitor.A falta de objetivo concreto no início da história é o que mais minou meu entusiasmo.

Mas, por favor, não abandonem o livro! Fiquei muito feliz por ter retomado e concluído a leitura esta semana; caso contrário, não iria descobrir esta mitologia única, que não chega a ser extremamente fascinante, mas te incuti aquela sensação do "querer mais".

A leitura passa a ser mais prazerosa no momento em que a autora começa a revelar ao leitor quais são suas verdadeiras intenções. Julgo os momentos anteriores ao reino de Durham como puro teste de paciência, uma enrolação um tanto desnecessária. Uma pena; afinal, a partir da segunda parte, o livro te traz aquela sensação que muitas leituras certamente já te trouxeram - a de não querer largar o livro.

É perceptível o quanto as personagens vão ficando mais consistentes conforme as páginas avançam, certamente produto do amadurecimento na escrita da própria autora. Acredito que muitos passam por este procedimento, são poucos os autores que conseguem sentir-se confortáveis no terreno que ainda estão construindo. Senti que o livro ganhou este ritmo mais sólido a partir da segunda parte (a já citada acima). 

Mesmo assim são cometidos alguns deslizes.Em certos momentos a narrativa é escrita com um pressa palpável, os pulos de cenas são bruscos e causam um pouco de estranhamento a quem esta lendo. Além disso, algumas explicações necessárias são tardias e confusas - é o caso do tempo no qual a trama se passa, o leitor não sabe ao certo se está no passado antigo, em um futuro medieval ou em uma outra dimensão; este fato só é abordado com maior cuidado bem depois do meio do livro.

(HELENA GOMES)

Entretanto, tenho meus elogios! Britannya tornou-se mais um Reino fantástico que irei inserir com muito prazer na minha coleção; a autora é bem cuidadosa ao lidar com sua mitologia única. Eu também consegui rir com este livro( o que tem se tornado um pouco raro nas minhas últimas leituras), o bom humor é muito bem empregado, não é artificial - surge com naturalidade.

Eu me surpreendi com o fato da autora ter conseguido transportar tanta história para poucas páginas, normalmente sagas com muitos livros (A Caverna de Cristais possui 7 livros) costumam ser muito rasas e com um conteúdo muito limitado em seu volumes. O Arqueiro e a feiticeira entrega aventura, romance e suspense de uma forma incrível e medida. Além disso, sobra espaço para a autora incutir ensinamentos pertinentes através de suas personagens.

O seu desfecho é mais agradável e satisfatório do que muitos livros juvenis que já li. A autora soube deixar ganchos bem leves para o próximo livro (sem contar o gancho principal que é evidente). Conclui o livro de forma confortável, sem dramas ou coisas do tipo. Helena Gomes, neste primeiro livro, constata e prova para o leitor que tem condições de ser uma grande autora de fantasia.

Não achei a edição lá estas coisas, a diagramação é boa; porém, não suporto ler livros com papel branco. Outra coisa, alguém deu a descrição das personagens para o ilustrador da capa?Nenhum dos personagens foi bem retrato;  por isso que sempre prefiro livros sem ilustrações ou sugestões das personagens nas capas (com exceção dos tie-ins). Não só isso,o trabalho dado às capas nacionais deixa muito a desejar em relação ao livros internacionais - o que é uma pena.

Para você que está procurando uma aventura intrigante com elementos medievais, mágicos e até mesmo futurista - A Caverna de Cristais parece-me que irá te servir muito bem. Tome cuidado ao julgá-lo pela capa ou talvez pelos seus capítulos iniciais, pois, quando você menos esperar estará completamente envolto pela aura encantadora de Britannya e pela busca do herói Thomas pelo seu profético e misterioso destino.

Título: O Arqueiro e a Feiticeira  Autor:  Helena Gomes  Editora: Idea 

Notas: |Enredo: 07/10 | Edição: 06/10| Entusiasmo: 07/10|